A moça do xerox


Em meados de 90 e poucos, xerox era o negócio do momento. Rendia mais que poupança e Bolsa de Valores. Certo dia, eu e minha mãe estávamos nestas lojinhas de bairro, que vendem de tudo que parece bom e barato. Namorando vitrines e avaliando preços, lembrei de documentos que precisavam ser "xerocados". Foi aí que começou a saga do xerox como fonte de renda. 

Antes de terminar a história, vou dar uma lição empresarial a muitos de vocês. E o melhor, só fui dono de um factoring dado pelo meu pai, quase pronto e ainda fali. E olha que na época o Governo liberou empréstimo pessoal para aposentados. A mulher do xerox não tinha foco, ela copiava o que via por aí e tacava tudo dentro da loja.

Agora começa mesmo. De repente lembrei dos documentos que precisava copiar, enquanto isso minha mãe escolhia uma calça jeans. Chamei a visionária do xerox e pedi, com todo carinho, cópias da carteira de trabalho, motorista, FGTS e afins. Surpreso, fui recebido com um sonoro "Pelo amor de Deus", vindo da moça que vendia xerox e fazia daquele espaço uma loja de roupas. Ela simplesmente disse, literalmente, o que coloquei entre aspas: "Ah, Pela môr de Deus. Assim num dá não, eu abro a loja para vender roupa, chinelo, sandália e esse povo toda hora pede xerox. É por isso que eu falo que essa máquina tá estragada (ela pega uma placa escrita "estragado" e coloca sobre a máquina). Esse povo precisa aprender que ficar xerocando é um saco e não dá dinheiro".
 
Empresária que gostava de dinheiro mas não gostava de trabalhar. Assim, até eu.








Doutor Sabe Tudo

A sensação é de quem sobe num ônibus em movimento: é assim a informação moderna. Ela chega para você rápido, e você tem que dar conta. Senão, meu jovem, você escutará a sentença "Como você não sabe?". Eu já escutei. E você, se conseguiu ainda não escutar, prepare-se: vai passar por este novo método de tortura intelectual contemporânea. Pode ser numa roda de amigos, no msn, no Twitter, no Facebook, pode ser até com a sua avó. Caso você não saiba, vai passar por isso na vida.


O não saber virou uma espécie de burrice, mas penso que não é bem assim. O fato de não saber é o que faz da vida este baú de surpresas. Normalmente, pessoas que sabem quase tudo são chatas, retas, sorriem pouco, acham todos menores e, na maioria das vezes, até piores. A sabedoria dos antepassados ultrapassaram anos sem utilizar mídias sociais. Eles passavam para frente o que sabiam, e sem internet. 


É engraçado o rosto das pessoas que assumem não saber algo. Eu sei muito pouco sobre quase tudo. Afinal, usamos muito pouco do nosso estimado cérebro. Os que o usaram mais, como aquele que você deve se lembrar o nome, foram um deles.
Pessoas precisam entender que não dá para saber tudo, e nunca será possível tal façanha. Essa sensação de que o mundo está correndo mais que os passos rápidos que você dá, acredite, é mais que normal. Ninguém sabe quase nada, mas a pose, a pompa, é de que se sabe tudo. O que acontece é que alguns sabem pouco a mais  sobre determinado assunto que você nada sabe. Daí a impressão de que você é um completo desinformado e ele é o Deus da informação rápida e útil.

Se você descer desse ônibus lotado, cheio de informação, não se desespere. Você não está errado, as pessoas não estão erradas, é só o mundo que resolveu girar mais rápido. A rotação está acompanhando a globalização. Vou ali dar uma lidinha nas notícias que chegam pelo Twitter. Té mais.  






Cemitério é ponto de encontro

Mas você já percebeu como todo mundo que andava sumido aparece num velório? É gente de tudo quanto é lado, até primos de grau nenhum aparecem. Muitos deles não sabem o nome da pessoa que vai curtir a cobertura. 


É abraço para tudo quanto é lado, tio gordo, tia magra, gente que já esteve pertinho de Deus, mas preferiu ficar por aqui. Tem de tudo. É uma reunião, o caixão é a mesa, todos em volta. Tem gente que só fica rindo, lembrando daquele tempo que cheira a mofo, outros choram, lembrando do tempo que não virá. Faz parte, já diria o poeta Cléber “Bambam”.
Cada um encara a morte de um jeito. Ao redor do mundo, muda-se o jeito como cada povo encara a Hora. Mas, voltando ao que interessa, a morte como ponto de encontro é tema filosófico. É fácil perceber a alegria do reencontro. Já não se fazem velórios como antigamente, é sério. De tempos em tempos, morre muita gente e começo a ir em velórios seguidos, um negócio ruim pra cara%#%, mas útil. Ali, vendo todos, vejo como é inútil reclamar de tudo, mesmo que isso já venha em nosso manual de instrução. Por um tempo, valorizo mais as pessoas que amo, as que odeio, meus pais, um sentimento que ultrapassa o amor. Ficamos todos olhando, incrédulos. Por que desligaram a chave daquela pessoa? Por que ela? Por que ele? Juntando todos que se amontoam em um velório de um conhecido que mais parece um desconhecido, nunca vamos descobrir. A morte é a resposta.
 

P.S.:  aqui é meio ruim mesmo, mas ninguém quer morrer. Eu comprovei isso na prática, e da pior forma. Em uma serra não muito distante, fui acompanhar uma despedida de um ente querido, que tinha há pouco virado cinzas, parecidas com as do cigarro. Olha isso. Tudo preparado para a despedida e jogam as cinzas. O vento vira e traz tudo de volta, inclusive caindo dentro da minha boca. Fiquei mastigando algo parecido com vidro. Tudo isso tem uma vantagem: tenho 29 e já comi uma senhora de 79. Deus é fiel.  




Evangélicos não trabalham em feriado católico

O fato é que já trabalhei com todo tipo de gente, isso inclui religiões diferentes. O curioso é que nunca vi um evangélico pedir para trabalhar quando o feriado fosse católico. Claro que é estranho. Se ele não acredita em tal divindade, por que fazer daquele dia um dia de descanso? Não sei. Do mesmo jeito que um médico não folga no Dia do Engenheiro, um evangélico deveria trabalhar no Dia  de Nossa Senhora Aparecida.
Difícil missão esta de falar de religião, orientação sexual, time de futebol etc. Vou me arriscar, faz parte, mesmo que sem muito ou quase nenhum conhecimento sobre o tema. 


Apesar de que sempre vamos dar uma esbarradinha em Deus. Vamos lá. Eu gostava de ver a carinha deles quando o calendário anunciava um stop nesse frenético dia a dia. Todos se olhavam, perguntavam quais o planos para o tal dia, e eles, os evangélicos, mais calados que criado-mudo. Num surto de insanidade, questionei, sem pestanejar: aqui, vocês não acreditam em imagem nenhuma. Então por que vocês vão folgar amanhã? Reinou-se o silêncio. Com isso, concluí: nem todo evangélico é santinho.






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